Maria Domingas em depoimento na Roda de Conversas "Mulheres Negras" |
Nesta quinta-feira, ao som de atabaques,
chocalhos e outros instrumentos musicais afro-brasileiros e com indumentárias, o
cortejo em homenagem a Zumbi dos Palmares, saiu às 17 horas do Jardim do Ó em
direção ao monumento Berimbau, na Avenida Princesa Isabel, no Banco Raso. Foi o
ponto culminante das festividades promovidas pelo Coletivo de Entidades Negras
de Itabuna e do Comitê Gestor Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial no Dia da Consciência Negra para que seja lembrado um dos líderes de
nossa história desde o Brasil Colonial.
Na tarde de quinta, relatos de
preconceito na roda de conversa “Mulheres Negras”, no Centro de Cultura Adonias
Filho, emocionaram as pessoas que participaram da atividade. Além disso, foram
apresentados testemunhos dos que conviveram e ainda convivem com o preconceito
étnico-racial no dia-a-dia. “Foi um evento de reflexão sob o tema e sobre a
inserção do negro na sociedade brasileira com a troca de impressões e
experiências marcantes”, disse Lula Dantas, presidente da ACAI.
“A luta não tem sido fácil. Mas, mesmo
assim já conseguimos colocar a nossa representação nos Conselhos Deliberativos
existentes no munícipio, para que haja representatividade nas causas que só nós
conhecemos de perto. Precisamos nos fortalecer ainda mais em todos os
segmentos”, afirma. Para o líder negro, as ações desse Mês da Consciência Negra
são voltadas à discussão, conscientização e para que as pessoas lembrem que
ainda se precisa de politicas publicas mais consistentes para as questões
identitárias.
Um dos momentos mais marcantes foi o
relato da trajetória de vida da educadora, psicóloga e coordenadora do
Movimento Negro Unificado, Maria Domingas Mateus de Jesus. Filha de
agricultores, ela saiu da cidade de Ituberá, no Baixo Sul do Estado, e aqui
conseguiu se firmar no mercado de trabalho. “Meu pai sobrevivia aqui em Itabuna
da pesca no Rio Cachoeira. Muitas vezes o peixe por ele pescado era o único
alimento na nossa mesa”, contou.
E acrescentou: “Certa vez, pai não tinha
chegado da pescaria e minha mãe me disse: ‘você não vai à escola’. Mas fui,
porque sabia que lá teria merenda. Neste dia, a professora que nunca se
aproximou de mim, colocou-me de castigo, porque eu disse que a filha dela era
metida. Isso sempre me marcou”, contou a educadora emocionada.
Maria Domingas ainda
assiste a manifestações de preconceito como a que sofreu no condomínio onde
mora. “No meu prédio, parece mentira, mas muitos ainda me olham desconfiados. Outro
dia eu fui até a piscina com minha filha e uma moradora chegou a perguntar à síndica
o que eu estava fazendo ali. Recebeu como resposta que eu era moradora e se
calou”, relatou.
Roda de Conversas no Centro de Cultura Adonias Filho |
O Dia da Consciência Negra é uma data
para se lembrar da resistência do negro à escravidão, desde o primeiro
transporte de africanos em navios negreiros para o solo brasileiro pelos
colonizadores portugueses, em 1549. O 20 de novembro
é a data escolhida por coincidir com o dia da morte de “Zumbi dos Palmares”, em
1695, aos 40 anos de idade. Outros temas debatidos pela comunidade negra e que
ganham evidência neste dia são: inserção do negro no mercado de trabalho, cotas
universitárias, discriminação por parte da polícia, identificação de etnias,
moda e beleza negra.
Promovidas com o apoio da Prefeitura de
Itabuna as rodas de conversa no Centro de Cultura Adonias Filho contaram ainda
com o apoio e participação de diversos movimentos, grupos afros e entidades
como o Ponto de Cultura Afro Itabunense, Ilê Axé Oya Funké, ilê Axé Iya Omi,
Ilê Axé Ejêxá. Também pela Unegro, Projeto Afro Encantarte, Regional do Plano
Juventude Vida do Governo Federal, Ponto de Cultura ACAI e Associação Santa
Cruz do Ijexá (Terreira de Ruy Póvoas), Coletivo a Coisa Tá Ficando Preta e do
Cine Club Mocambo.
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Fonte: Secretaria
de Comunicação da Prefeitura
de Itabuna
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